quarta-feira, 6 de maio de 2009

A história do Baralho – As primeiras cartas da Inglaterra

O baralho chega a Inglaterra.


Na segunda metade do Século XV, os comerciantes italianos, espanhóis e holandeses realizavam grande parte das suas atividades nos portos ingleses. Portanto, é possível que esses comerciantes e os marinheiros que os acompanhavam tenham sido os responsáveis pela introdução das cartas na Inglaterra, já que anteriormente a esse período não existem registros da chegada das cartas às Ilhas Britânicas.


A partir daí, rapidamente, as cartas foram importadas e alcançaram extraordinária expansão, mesmo essa prática sendo considerada ilegal. Mesmo assim, a prática de jogos com cartas era realizada inclusive pela realeza, e são as vestimentas usadas pelas classes mais elevadas da sociedade inglesa as retratadas nas figuras do baralho da primeira metade do século XVI.

Calcula-se, que no início do século XVII eram vendidos na Inglaterra cerca de meio milhão de baralhos por ano, e isso, mesmo depois da proibição total de jogos de cartas e dados decretada por Henrique VIII devido aos constantes conflitos entre soldados que jogavam.

No século XVIII os primeiros impostos ingleses sobre as cartas foram estabelecidos.


Hombre


O jogo espanhol hombre foi um dos primeiros que utilizaram o leilão, por meio do qual um dos jogadores (o declarante) procura cumprir um contrato, enquanto os outros buscam impedi-lo de fazer isso. Foi daí que evoluiu o leilão tal como é praticado hoje em jogos como o trasillo (ou voltarete, em Portugal), o tarô, o skat, o boston e o bridge.

No bridge em particular ocorre uma curiosa situação: jogam duas duplas, cada qual procurando estabelecer o melhor contrato para si (jogo para quatro). Uma vez conseguido esse objetivo, um dos membros da dupla ganhadora "morre" e o outro - o declarante - joga contra a dupla contrária, que procura impedi-lo de cumprir o contrato (jogo para três).

Como mais um exemplo da popularidade e da influência do hombre entre os ingleses - e por decorrência, em todo o mundo de tradição anglo-saxônica -, vale lembrar que os naipes pretos do baralho inglês são spades (espadas) e clubs (bastões), nomes que derivam das designações dos naipes do baralho espanhol (espadas e bastos) e que não têm nenhuma relação com os desenhos que aparecem nas respectivas cartas (setas e trevos).

Fabricação das cartas do Baralho


Os primeiros exemplares de cartas de jogar e eram desenhados e coloridos manualmente, como mostram inúmeros exemplos conservados nos museus especializados.

As primeiras cartas eram totalmente elaboradas a mão, o que fazia delas objetos preciosos e delicados. Apesar disso, e das leis de proibição ao jogo promulgadas na maior parte dos países europeus, os jogos de cartas incluíram-se rapidamente entre os costumes de todas as classes sociais. Por esse motivo, foi necessário aumentar a produção de baralhos, com o objetivo de atender a uma demanda sempre crescente.

Uma forma de tornar mais rápida e simples a fabricação das cartas foi a aplicação de cor sobre elas diretamente com os dedos, sem que se respeitassem os limites assinalados pelas linhas do desenho. É nessa época, no início do século XV, que começam a ser empregadas as máscaras, que consistiam em padrões ou moldes perfurados ou entalhados. Para cada carta, havia várias máscaras, uma para o desenho básico e outra para as diversas cores. As tintas eram aplicadas com pincéis especialmente adequados para este trabalho.

Uma segunda fase da evolução das cartas inaugura-se com a introdução das técnicas de gravura. Para isso se utilizava uma matriz de madeira (xilogravura) e, sobre as folhas ou cadernos impressos, aplicavam-se as máscaras para o colorido posterior.


Xilografia é um processo que permite gravar ou imprimir a partir de um bloco de madeira, do qual se suprimem as partes que não devem aparecer na estampa e se deixam em relevo as superfícies lisas que receberão a tinta e que serão impressas no papel. A imagem final, chamada gravura, é o resultado da impressão xilográfica.

Inicialmente esse processo foi empregado para estampar tecidos, e após a invenção do papel pelos chineses, a xilogravura disseminou-se rapidamente no Oriente.

Da impressão de textos foi que surgiu a idéia de empregar tios móveis (isto é, letras avulsas) para imprimir, pois com isso era possível reordenar e reutilizar os tipos para a impressão de outras páginas (em vez de se realizar uma gravação para cada página). Foi assim que aconteceu a invenção da Imprensa.

A operação realizava-se inicialmente mediante pressão manual, sobre papel que fora antes levemente umedecido. Mais tarde se empregariam prensas de rosca.

Depois da impressão aplicavam-se as cores. Para esse trabalho os artesãos usavam a máscara (padrões ou moldes perfurados ou entalhados). Além disso, eles também empregavam matrizes para imprimis seus nomes, ou marcas de fábrica, nos estojos dos baralhos.

A Litografia, ou litogravura, é um sistema de impressão baseado no fenômeno físico-químico de repulsão entre a água e os materiais gordurosos, ou seja, no fato de que a água e substâncias gordurosas não se misturam. A imagem que se pretende reproduzir é desenhada numa pedra (pedra litográfica) ou numa placa metálica (normalmente de zinco). Para fazer esse desenho emprega-se uma substância oleosa. Depois que ele está terminado, realiza-se sua fixação com ácido nítrico dissolvido em água (água-forte) e goma arábica. O ácido nítrico abre os poros da pedra permitindo que esta absorva a gordura, enquanto a goma arábica realiza a tarefa básica de fixação.

A imagem fixada atrai tinta oleosa e repele água, motivo pelo qual, quando a pedra é umedecida com uma esponja e se passa sobre ela um rolo impregnado de tinta oleosa de impressão, a tinta adere no desenho mais não no restante da pedra molhada. O processo é complexo e exige pessoal qualificado porém seus resultados compensam já que o desenho original é fielmente reproduzido nas cópias.

Pouco antes de ser abandonada como procedimento de impressão industrial, a pedra litográfica começou a ser substituía por pranchas metálicas. Mais tarde os modernos modos fotomecânicos de impressão acabariam definitivamente com a litografia, que se conserva atualmente como processo apenas industrial.

O Ofício de artesão de cartas

O mestre de cartas, fosse estampador ou pintor, encarregava-se pessoalmente da realização da estampagem e do colorido das cartas de jogar, já que essas duas operações eram consideradas fundamentais para garantir a necessária qualidade de fabricação.

As operações secundárias do processo de produção de cartas – preparação e colagem do papel, corte e pesagem dos baralhos, preparação das cores e das tinturas, etc – eram realizadas por familiares do mestre de cartas, por aprendizes ou mesmo por pessoal assalariado.

Antes de obter o título de artesão de cartas, o interessado precisava passar por um período de três anos de aprendizado como discípulo de um mestre do ofício. Durante esse tempo, o aprendiz convivia com o mestre na casa deste. Suas obrigações incluíam misturar cores, estender e secar as três folhas de papel que, coladas, eram usadas para a fabricação das cartas e, ainda, a limpeza das ferramentas ao final da jornada de trabalho.

Depois do aprendizado vinha um período, que variava de três a seis anos, durante o qual o artesão trabalhava na condição de oficial. Para obter o título de mestre era indispensável ao candidato ter passado aos três anos de aprendizado com um mestre artesão de cartas diplomado. Além disso, ele precisava apresentar uma obra-prima de sua criação, que seria julgada pelos “guardiães do ofício, que examinavam as aptidões e o talento do candidato.

Os exames não eram fixos. Variavam segundo o parentesco entre o aprendiz e o mestre. Assim, filhos de mestres artesãos de cartas tinham maiores facilidades para passar nas provas.
Por último era costume que o profissional, uma vez tendo recebido o título de mestre artesão de cartas, oferecesse um refresco ou uma refeição leve às pessoas que tivessem acompanhado seus exames.

Amanhã termina a série sobre a história do Baralho. Algum comentário ou pedido? Fique a vontade, entre em contato, deixe uma mensagem.

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